ÁFRICA RETALIA À XENOFOBIA NA RAS
Engenheiros sul-africanos a trabalhar nas minas e numa empresa de gás em Moçambique foram evacuados para locais seguros na sequência de ameaças de ataques como represália à xenofobia na África do Sul.
Eles foram evacuados dos seus locais de trabalho enquanto vários países estão a exigir respostas por parte do governo sul-africano sobre ataques aos seus cidadãos.
Moçambicanos, malawianos, somalis e congoleses têm sido vítimas de violência xenófoba, que se instalou em Durban há três semanas antes de se expandir para Joanesburgo e Pietermaritzburg.
Pelo menos cinco pessoas foram mortas e milhares de outras se encontram deslocadas por causa do surto de violência e pilhagem.
O Alto-comissário sul-africano no Malawi foi convocado quinta-feira pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do país a uma reunião sobre a segurança dos seus concidadãos na África do Sul.
O porta-voz do Departamento das Relações Internacionais, Nelson Kguwete, confirmou o encontro e disse que os embaixadores vão se encontrar esta sexta-feira para apresentar as suas preocupações.
O porta-voz da Sasol, Alex Anderson, disse que o trabalho foi paralisado na sua empresa de gás em Inhambane, Moçambique, depois de o pessoal sul-africano ter recebido ameaças de ataques.
Mensagens de SMS foram enviadas a moçambicanos aconselhando-os a não fazerem compras na vizinha cidade de Nelspruit, em Mpumalanga, porque é perigoso.
Várias fontes disseram ao jornal sul-africano The Times que as empresas sul-africanas Kentz Engineering e DRA Engineering evacuaram o seu pessoal das minas carboníferas em Tete, Moçambique.
Falando em nome da Kentz, Paul Youens disse: A segurança dos nossos funcionários é fundamental e nós já temos planos para mitigar quaisquer riscos para as equipas do nosso projecto.
A DRA Engineering não respondeu às chamadas telefónicas, mas uma fonte da empresa em Tete disse que a gerência teve conhecimento das ameaças e todos os sul-africanos foram evacuados. Foram levados para lugares seguros. Do mesmo modo que os sul-africanos estão zangados porque os estrangeiros lhes tiram emprego na África do Sul, os moçambicanos também estão, disse a fonte.
Anderson disse que a Sasol está a tomar as necessárias precauções para garantir a segurança de todo o pessoal.
O canal público de televisão em Moçambique (TVM) disse ao The Times que circulam vídeos no país que mostram a expulsão de sul-africanos de várias empresas em Moçambique. Disseram que os trabalhadores moçambicanos na Sasol entraram em greve, recusando-se a trabalhar até que todos os seus colegas sul-africanos saiam da empresa.
É uma forma de retaliação por parte dos moçambicanos, disse a TVM.
Na Nigéria, foram feitos apelos para o governo exigir que a sua contraparte sul-africana estanque a violência.
A PMNews, uma publicação online, disse que os nigerianos exigem que parem os ataques xenófobos dentro de 48 horas ou então as empresas sul-africanas a operarem na Nigéria serão encerradas. O recém-eleito Congresso Progressivo de Todos entregou um memorando nesse sentido à embaixada sul-africana em Lagos.
A rede de televisão sul-africana SABC reporta que a cantora sul-africana Kelly Khumalo foi forçada a cancelar actuações em Manchester e Coventry na sequência de ameaças de os africanos provocarem distúrbios durante os seus concertos nas duas cidades britânicas em resposta aos ataques xenófobos.
O grupo musical Big Nuz, de Kwaito, cancelou a sua programada actuação no Zimbabwe, por receios de vitimização.
O Comité Consultivo dos Direitos Humanos, uma rede de 97 ONGs no Malawi, disse que exige uma cimeira de chefes de estado e de governo da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). O comité exige ainda indemnização às vítimas dos ataques.
A violência continua a expandir-se na província sul-africana de Gauteng, apesar da condenação dos ataques, quinta-feira, por parte do presidente Jacob Zuma.
Ele disse que 350 soldados foram posicionados nos postos fronteiriços e outros militares nas fronteiras em sete províncias, para prevenir qualquer tipo de crimes.
Até altas horas da noite de quinta-feira dezenas de estrangeiros tinham sido expulsos das suas residências em Actonville, em East Rand e as ruas estavam bloqueadas e viaturas eram apedrejadas. Sul-africanos à caça de estrangeiros em Actonville disseram ao The Times que Zuma que vá para o inferno por gostar de amakwerekwere(estrangeiros). Ele (Zuma) dá-nos alimento? Dá-nos emprego? Gosta de nós como ele gosta dos amakwerekwere? Não. Ele trata-nos pior do que aos estrangeiros, disse Witness Masela.
Nós pagamos impostos mas não temos emprego. Estes estrangeiros não pagam impostos mas têm emprego. Zuma que não nos venha com discursos bonitos. Ele que vá para o inferno, disse ele.
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