MAIS DE 100 MOÇAMBICANOS REGRESSAM FUGIDOS DE VIOLÊNCIA XENÓFOBA NA RAS
Cento e sete moçambicanos, incluindo 22 crianças, regressaram esta madrugada a Moçambique e foram instalados num campo em Boane, província de Maputo, repatriados da África do Sul devido à onda de violência xenófoba contra estrangeiros.
Os primeiros 107 moçambicanos, de um total de 600 que estavam, refugiados em centros de acolhimento na região sul-africana de Durban, foram transportados em dois autocarros e são maioritariamente oriundos das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane, no sul do país.
Os repatriados foram instalados num campo situado num terreno da Autoridade Tributária, em Boane, e vão dormir em tendas disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).
Os dois autocarros já regressaram à África do Sul para irem buscar uma nova leva de moçambicanos, devendo regressar a Boane com pelo menos mais 100 repatriados.
Na quinta-feira, Fernando Manhiça, diretor para os Assuntos Jurídicos e Consulares do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, disse à Lusa que cerca de 600 moçambicanos estavam refugiados em centros de acolhimento na região de Durban e que o número poderia subir com a escalada de violência xenófoba na África do Sul.
Fernando Manhiça afastou a existência de vítimas mortais moçambicanas nesta nova crise xenófoba dirigida a estrangeiros africanos, referindo que dos dois casos noticiados pela imprensa de Maputo um não chegou a morrer e outro faleceu por motivos não relacionados com os episódios de violência.
De acordo com este diretor do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a maioria dos moçambicanos residentes na região de Durban trabalha em campos agrícolas, empresas privadas e casas domésticas, e muitos deles estão em situação irregular.
O número daqueles que pretendem voltar às suas terras de origem em Moçambique vai oscilando com a evolução da situação em Durban, até porque "muitos têm a sua vida constituída na África do Sul, há vários anos, e a decisão de regressar não é fácil".
Em alguns casos, chegou ao conhecimento da diplomacia moçambicana a existência de pessoas que abandonam os centros de acolhimento para ir trabalhar, "porque não têm meios de subsistência, sob o risco de serem agredidos, e depois regressam".
Fernando Manhiça disse ainda que uma mensagem que está a circular nas redes sociais, desaconselhando deslocações de cidadãos moçambicanos à África do Sul, não teve origem na diplomacia de Maputo, embora admita que o risco é elevado.
"O Alto Comissariado [de Moçambique em Pretória] está profundamente preocupado com a possibilidade de as pessoas viajarem para a África do Sul", afirmou, recomendando "todo o tipo de cautelas, porque há já ameaças e as viaturas podem ser vandalizadas e as pessoas agredidas", não apenas em Durban e na província de Kwazulu Natal, mas noutras mais próximas de Maputo.
Na quinta-feira, o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, lançou um apelo à calma, tendo afirmado que "nenhum nível de frustração ou de raiva pode justificar ataques contra os cidadãos estrangeiros ou a pilhagem das suas lojas".
Esta nova vaga de violência teve início poucos dias depois de o rei zulu, Goodwill Zwelithini, a mais alta autoridade tradicional de Kwazulu Natal ter desafiado os estrangeiros "a fazer as suas malas e ir embora" do país.
Em 2008, morreram 72 estrangeiros, vítimas de ataques xenófobos nos bairros suburbanos da África do Sul.
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