MALAWI E SOMÁLIA REPATRIAM VITIMAS DA XENOFOBIA NA RAS

14-04-2015 17:13

À semelhança do que fizeram as autoridades moçambicanas, quando apoiaram o regresso ao país das vítimas da violência xenófoba, em 2008, os governos do Malawi e da Somália estão a preparar o repatrimento dos seus cidadãos radicados na África do Sul, devido a tumultos que, nas últimas semanas, se têm registado em vários pontos da província sul-africana do KwaZulu-Natal contra imigrantes, incluindo do nosso país.

Entre Abril e Maio de 2008, o governo de Moçambique assistiu o regresso às origens de mais de 40 mil moçambicanos vítimas da xenofobia, que provocou a morte de 62 pessoas, das quais 23 do nosso país.

Seguindo a posição de Moçambique, a Embaixada da Somália na África do Sul anunciou que esta a trabalhar com vista a registar os somalis espalhados pelo país, de modo a ajudá-los a retornar ao país.
Aquela instituição diplomática pediu assistência ao Ministério sul-africano das Relações Internacionais e Cooperação, de modo a salvar a vida de milhares de somalis radicados naquele país.
A mesma iniciativa foi assumida pelas autoridades malawianas, que disseram que iriam assistir aos seus cidadãos a regressar ao Malawi, face a violência que ja provocou a morte de pelo menos dois moçambicanos.
O Ministro da Informação do Malawi, Kondwani Nankhumwa, descreveu a situação no KwaZulu-Natal de “muito” tensa, onde milhares de imigrantes, maioritariamente moçambicanos e zimbabweanos, foram destituidos dos seus locais de residência e pilhados os seus bens so nas últimas três semanas.
Nankhumwa revelou que a Embaixada do seu país em Pretória, capital política sul-africana, está a emitir salvo-condutos para os seus concidadãos, por forma a levá-los a casa. “Os malawianos estão sendo alvos dos ataques xenófobos e constam ter perdido todos os seus haveres, includindo passaportes”.
Informações que a AIM apurou indicam que a vilência xenófoba continua a agitar a região do KwaZulu-Natal, embora o rei zulu, Godwill Zwelithini, tenha apelado para o fim dos tumultos.
Jornais sul-africanos escrevem que, entre domingo e segunda-feira últimos, os locais atacaram imigrantes, bem como pilharam os seus negócios, na área de KwaMashu, a norte de Durban.
A situação, que tende a generalizar-se, tem estado a forçar milhares de estrangeiros, incluindo moçambicanos, a fugir dos seus locais de residência e a se acomodarem em campos de trânsito naquela região.
Na noite de segunda-feira, segundo o semanário sul-africano Sunday Times, editado em Joanesburgo, os atacantes, equipados com armas brancas, pilharam negócios de estrangeiros.
Advogados dos direitos humanos e analistas políticos sul-africanos criticaram o Secretário-Geral do Congresso Nacional Africano (ANC), no poder, Gwede Mantashe, por apelar ao estabelcimento de campos de refugiados, descrevendo a exortação de uma “reacção instintiva”.
O apelo de Mantashe é tido como podendo exacerbar a violência, à semelhança de comentários feitos pelo rei Zwelithini, que alegadamente teria apelado para a explusão dos estrangeiros do país.
Manthashe disse que os ataques no KwaZulu-Natal deviam ser vistos como “afrofobia e não como xenofobia”. Explicou que os imigrantes de outras partes da África competem por recursos, situação que, segundo o interlocutor, acaba despoletando tensão, mas em forma de afrofobia.
“Penso que um bom gesto para nós sul-africanos seria esses estrangeiros viverem naturalmente, mas temos que construir campos de refugiados para assim documentarmos essas pessoas”, argumentou.
Analistas descreveram os comentários do Secretário-Geral do partido no poder na África do Sul como parte do que apelidaram de esquemas do governo destinados a tirar estrangeiros do país, mencionando o encerramento de centros de recepção de refugiados, o ano passado, nas cidades do Cabo, Joanesburgo e Port Elizabet.
Ingrid Palmary, professora no Centro para a Migração e Sociedade na Universidade sul-africana da Wits, referiu que “quando os centros de recepção de refugiados foram encerrados e depois recolocados junto das fronteiras, a sugestão que agora se faz é de ser o primeiro passo da criação de acampamentos”.
Jacob van Garderen, dos Advogado dos Direitos Humanos, condenou o posicionamento assumido por Mantashe sobre a criação de campos de regufiados, por se tratar, segundo viria a classificar, de “política de avestruz”, porque a intenção é de tentar esconder o problema.
Explicou que “um dos princípios da lei sobre os refugiados é a sua integração social'. Esta política, segundo explicou, beneficia a comunidade e os próprios refugiados, permitindo assim ao país ter técnicos qualificados. 
Além de Mantashe, Edward Zuma, filho do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, falou também contra os imigrantes, ao afirmar que a África do Sul estava a ser uma”bomba-relógio”, com o risco de ser tomada por estrangeiros.
Em entrevista ao diário sul-africano, Sowetan, o Ministro sul-africano da Polícia, Nathi Nhleko, que integra uma equipa de funcionários indicados pelo Presidente Zuma para pôr cobro a tensão xenófoba, disse que “crimes sérios estavam sendo cometidos por indocumentados”.
Para o analista político, Shadrack Gutto, o governo não esta a abordar devidamente a questão da xenofobia, sublinhando, contudo, que “precisamos de compreender a presença dos imigrantes porque, neste momento, temos na África do Sul europeus e asiáticos, que amamos e abraçamos, mas contrariamente, odeamos, atacamos e queimanos vivos os africanos”.
Entretanto, os assaltantes ameaçaram, com machados e martelos, jornalistas do semanário sul-africano Times, chamando-os de “cães indianos”, quando tentavam cobrir a situacão na região. 
“Não queremos falar com cães, especialmente um cão indiano”, referindo-se a um deles, de origem Indiana. 
As ultimas informações apontam que em KwaMashu os locais continuam a atacar e a pilhar lojas pertencentes a imigrantes, tendo sido mortos quatro estrangeiros.
Um deles foi identificado como sendo etíope, queimado num contentor por uma multidão de sul-africanos.

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